por Eduardo Amato*
Dorothea Wiedemann nascida na Alemanha em 1930, veio ao Brasil em 1933 devido ao que viria ser o regime nazista alemão de Hitler. Da Terra Nova, perto de Castro no Paraná, para Curitiba, e depois Recife, foi em busca de boas condições de estudo. O contraste de paisagens certamente já despertara a sensibilidade da artista, que em 1946 passou a frequentar a Escola de Belas Artes de Pernambuco. Dessa época datam
coloridas aquarelas, estudos de padronagens, entre outras experimentações que ela fazia durante o curso.
Com uma biblioteca suprida de livros com trabalhos de Dürer, Käthe Kollwitz e outros, ela encontrou uma nova possibilidade de comunicação: a gravura. Espontâneas xilogravuras em preto-e-branco são o resultado desse primeiro contato com a técnica.
Dorothea mudou-se então para São Paulo, onde estudou com Yolanda Mohalyi e Karl-Heinz Hansen. Foi em viagens paralelas para o Rio de Janeiro que ela teve contato com a gravura em metal (com o ex-colega Darel Valença). Em 1952, frequentou o Atelier 17 de Stanley William Hayter para conhecer mais a fundo a técnica. Nesse momento já tinha uma queda especial pela xilogravura, mas nunca abandonou completamente as possibilidades do metal (novas gravuras surgiriam na década de 70).
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Bairro do Limão, Dorothea Wiedemann, aquarela, 1948 |
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Xilogravuras de Dorothea Wiedemann: Chuva (regem), 1951 / After de second stroke,1975 / Eyes of the forest, 1976 |
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Pinat, Dorothea Wiedemann, água forte e tinta, 1952 |
As mudanças nunca param e com 24 anos foi morar na Nova Guiné, onde o simbolismo da região e a cultura do povo inspirou suas xilogravuras, aquarelas, desenhos e monotipias. De lá para o Japão e de volta para Hamburgo, em 1959 teve sua primeira exposição (70 trabalhos), onde mostrou tudo o que havia visto lá, sob um olhar investigativo de traços livres.
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New Guinea Market, Dorothea Wiedemann, xilogravura, 1956 |
Ficou na Alemanha até o final dos anos 50. Velejou de Hamburgo até Recife, seguiu para o Paraná e depois subiu toda a costa brasileira, chegando em Miami, pelo Mar das Antilhas.
A década de 60 deu-se para a artista principalmente nos Estados Unidos, onde lecionou gravura em Coral Gables e Miami, experimentou a litografia, trabalhou como ilustradora para revistas e realizou diversas exposições.
A precisão que os trabalhos com múltiplas matrizes exigem funde-se com a poética de Dorothea, mas não torna rígida a obra final, de delicadas ramificações que correm pela madeira como veias carregadas de conteúdos altamente potentes. Com a técnica completamente absorvida pela expressividade, a própria técnica é um elemento formal da imagem; há um contraste entre conteúdos fortes e traços sensíveis (porém precisos). É uma dança entre leveza e dureza, conseguida através desses traços precisos e tensionadíssimos, e as cores fortes apresentadas em transparências de superfícies densas, de ritmo dramático.
Em 1979, volta para a Terra Nova, e leciona História da Arte, Gravura e Desenho em um colégio no Paraná. Como todos os grandes mestres, Dorothea nunca cessa sua eterna experimentação, ela nunca se acomoda com os resultados e busca novas linguagens para apresentar seu conteúdo. Os trabalhos que sucedem esse período são cada vez mais livres e seus temas passam de circunstanciais para condições humanas gerais, processo natural da maturação dos artistas.
Dorothea maneja com maestria a técnica e as formas de linguagem, seu enfoque muito mais denso, compreende um viver global e pessoal de influências culturais adquiridas durante suas viagens. Ainda na última fase, surgem grandes ensaios e edições de gravuras com técnicas contemporâneas (impressões nas duas faces do papel, impressões superpostas, deslocamentos intencionais, ...).
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Canyon ao amanhecer, Dorothea Wiedemann, xilogravura, 1992 |
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Dorothea Wiedemann (1930-1996) |
O Museu Oscar Niemeyer - MON recentemente expôs 53 trabalhos de diversas fases da artista, sob a curadoria de Christiani Vieira Strickert, Ilsemarie Hampf, Karina Marques, Ronie Cardoso Filho e Simone Landal. Os trabalhos foram doados pelas irmãs da artista e agora pertencem ao acervo do museu.
*EDUARDO AMATO
Natural de Castro vive e trabalha em Curitiba. Graduando em Design -
Projeto de Produto pela Universidade Positivo.
Cursou pintura de 2001 a 2007; linoleogravura e monotipia em 2010;
gravura em metal desde 2009 e atualmente frequenta o curso de
litografia e gravura em metal do Solar do Barão. Com interesse nas
áreas de história da arte, linguagem visual e análise crítica.
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