Compartilho aqui uma metodologia de ensino que iniciei em 2008 ao ministrar a disciplina Fundamentos e História da Arte-Educação, no curso de Pós Graduação em Arte e Educação Lato Sensu da Faculdade 7 de Setembro, Fortaleza, Ceará. Na ocasião, o objetivo inicial era estudar o Histórico do Ensino de Arte no Brasil tendo como ponto de partida as narrativas de vida de cada estudante participante da disciplina. Desta forma, estes foram convidados a fazer um pequeno inventário de suas vidas no que tange as experiências formativas em Arte e compartilhar com o restante do grupo. 


Para estudar Arte e Educação, seus princípios, tendências pedagógicas, métodos e abordagens, é essencial conhecer o processo histórico em que se deu o Ensino de Arte no Brasil, visto que alguns estigmas de sua origem permanecem até a atualidade configurando uma área extremamente discriminada no currículo escolar e, de certa forma, na sociedade brasileira como um todo. No entanto, estudar a história desses processos apenas com base nos fatos e nas referências teóricas pode tornar-se muito distante da realidade dos estudantes, os quais dificilmente conseguiriam relacionar tais fatos históricos à sua vida hoje. Desta forma, é preciso contextualizar tais conteúdos numa perspectiva histórica, social e ao mesmo tempo atual e individual, pois:


Com o tempo a atividade foi sendo adaptada, modificada, ampliada e aplicada com várias turmas no nível de graduação e pós-graduação passando a denominar-se de “Linha do Tempo: narrativas de experiências formativas em Arte”. Desde 2011 a atividade vem sendo desenvolvida na Universidade Federal do Ceará, com estudantes do Curso de Pedagogia na disciplina de Arte-Educação (Faculdade de Educação) e do Curso de Licenciatura em Teatro na disciplina de Fundamentos da Arte na Educação: Metodologias e Tendências (Instituto de Cultura e Arte). Nos anos de 2011 e 2012 participaram da atividade, aproximadamente, 203 estudantes de pedagogia e 87 de teatro, os (as) quais foram convidados (as) a compartilhar narrativas de vida permeadas pelas experiências formativas em Arte, trazendo influências, pessoas, eventos e instituições significativas para o despertar da consciência estética e da sensibilidade artística desde a infância até a atualidade. 


O objetivo principal da atividade é oportunizar aos estudantes o resgate dos processos formativos em Arte, através das narrativas de suas vidas, a fim de levá-los à reflexão sobre seu próprio processo de formação artística, suas fragilidades e precariedades para, a partir daí, compreenderem o Histórico do Ensino de Arte no país e a importância deste ensino para a formação humana, bem como a responsabilidade do (a) educador (a) em Arte na sociedade

Desde o início, houve a preocupação formativa, visto que o público é constituído por (futuros) educadores e educadoras, multiplicadores do Ensino de Arte, responsáveis pela formação de crianças, jovens e adultos. Desta forma, a reflexão sobre o Ensino de Arte passa a ter diferentes dimensões: a dimensão individual das narrativas de vida; a dimensão social e histórica do Ensino de Arte como um todo no país e a dimensão formadora nascida da reflexão sobre o coletivo de apresentações e voltada para a responsabilidade de educador na sociedade que cada um terá ao concluir a graduação e ingressar no mercado de trabalho.


Metodologicamente, a atividade Linha do Tempo ocorre a partir de um desafio: buscar, reunir, organizar e apresentar/narrar as experiências formativas em arte vividas desde a infância até a atualidade. Desta forma, os estudantes são convocados a mergulharem em suas trajetórias de vida para resgatarem as vivências mais significativas, dando corpo e representação, tornado inteligível memórias, lembranças, sensações, momentos, atividades e traumas desse percurso. Cada estudante tem, em média 10 minutos de apresentação, o que é pouco, mas inevitável, tendo em vista as turmas serem muito numerosas e tal atividade tomar boa parte da carga horária das disciplinas.

A forma de apresentação das narrativas é livre, ou seja, cada um escolhe como apresentar sua Linha do Tempo, o que detona os mais variados processos de representação dando um caráter criativo a cada apresentação. Muitos foram os que preferiram reunir tudo em uma apresentação de slides, inserindo fotos, textos, desenhos, músicas e vídeos; outros fizeram vídeos de fotos ou criaram e editaram vídeos; estudantes do curso de teatro escolhem geralmente a performance, pois podem narrar com o corpo utilizando a linguagem teatral – há quem atue, cante, dance, toque algum instrumento e até faça mágica! Tudo é permitido, sem nenhum tipo de censura e a cada apresentação o grupo sente-se impelido a fazer mais, como se a apresentação de cada um fosse estímulo e alimento para novas apresentações.

Pensamos que para entender o processo histórico do ensino de arte detonador de estigmas de toda a ordem, ainda presente hoje no imaginário coletivo torna-se necessário, então, propor um reconhecimento desse processo de forma individual, questionando: 

Ao final, os estudantes realizam uma análise crítica a partir de um texto escrito em que refletem sobre os conteúdos apresentados, lançando um olhar crítico sobre as vivências compartilhadas no intuito de organizar as informações e perceber as familiaridades entre as atividades, os traumas, os pontos positivos, as questões culturais, os preconceitos. A partir daí, passamos ao estudo do histórico do ensino de arte, estudando as metodologias e as tendências pedagógicas de arte no Brasil, traçando um paralelo entre as histórias de vida individuais/coletivas e a história do ensino de arte como um todo.

Em 2012 a experiência foi apresentada no V Congresso Internacional de Pesquisa (Auto)Biográfica - CIPA com Ercília Maria Braga de Olinda e Larissa Rogério Bezerra e no XXII Congresso Nacional da Federação dos Arte-Educadores do Brasil - CONFAEB. 

Seguem os artigos completos publicados em PDF ;-)
  1. LINHA DO TEMPO: Narrativas de vida e experiências formativas em arte: + pdf para cachola
  2. Narrativas de experiências formativas em arte: a linha do tempo de estudantes universitários: + pdf pra cachola



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