...escrever sobre a história do K-Olho... por incrível que pareça, um desafio em meio a tantas atividades cotidianas. Por mais que o Mundo K-Olho se conte em imagens há sim uma história e que precisa ser contada para que as pessoas tenham um entendimento mais amplo do que vem a ser esse universo por mim criado que denomino K-Olho.


O nascimento, ou melhor, a ‘personificação’ desse ser que se expressa em forma de ‘olho’, seja na forma humana, animal, ou outras, como árvores, casulos, etc, é resultado da minha trajetória de vida, das minhas andanças como artista e militante na arte-educação-ambiental. Lendo João do Rio, dia desses, posso arriscar que o K-Olho nasce, se personifica da minha condição de ‘flaneur’. Digo que se personifica porque da decomposição, da pesquisa estética da forma dos olhos, surge a figura humana com a cabeça de olho, ou seja, o olho é o que representa esse ser, essencialmente visual, mergulhado, invadido, e tomado pela imagem do cotidiano. Às vezes chego a afirmar que o K-Olho sou eu, é a minha personificação em objeto de arte, a representação visual daquilo que me tornei, daquilo que eu acredito e pelo qual milito ativamente enquanto educadora-professora.



O olhar me faz, me constitui, me diz, me revela para o mundo, me lança para ofuturo. O K-Olho acaba sendo a manifestação artística-plástica mais intensa dessa minha existência poética que está preocupada com a estética do cotidiano, com a formação humana, com um mundo mais colorido, mais ambientalmente viável, as utopias! Por elas acordo diariamente, por elas luto permanentemente. Dessa junção arte-educação-ambiental e desse flanar pelas paisagens diversas do cotidiano, na cidade e na praia nasce a inquietação educadora do desejo de transformar, de dialogar com o outro, de proporcionar experiências poéticas visuais, sensíveis no contato com esse mundo tão caótico, tão feio, tão utilitarista.


Da formação acadêmica no curso de artes e do mestrado em educação ambiental, das criações e experimentações estéticas como artista, das experiências como educadora na ONG, na escola pública, na escola particular, na universidade pública, na universidade particular, da relação com as pessoas como um todo, do contato sensível com o lugar habitado, da condição de flanêur, do andarilho sensível brota o “Mundo K-Olho”. Seres de olhos que olham e questionam nosso olhar, nossa condição de observadores e de atores sociais.



A pesquisa plástica se originou, ainda durante a graduação, no curso de artes plásticas na FURG no RS nos anos 90, da decomposição e composição da forma do olho em variadas técnicas do desenho e da pintura, especialmente grafite, aquarela, nanquim e lápis de cor. Olhos rabiscados, rascunhados, aguados, que se comunicam, que dançam, se entrelaçam, se desfazem, se decompõem... se refazem no outro! Essa experiência derivou na série “Olhos Estéticos”



e foi justamente no meio dessas representações que nasce a personificação do K-Olho, figura humana com cabeça-olho. Vários seres humanos k-Olhos.



Apesar da intensidade dessas figuras iniciais, da força que elas trazem, o trabalho plástico nessa perspectiva de representação ficou adormecido por alguns anos. Em 2003, grande mudanças da vida, de espaço, de lugar, grandes realizações, mudanças de rota, de sentido de vida me lançaram para o outro lado do mapa, do Rio Grande do Sul para o Ceará.


E foi no Ceará, numa sala de aula da 4ª série numa escola construtivista, onde eu lecionava artes, que surge a K-Ótica – a cidade do K-Olho e vários seres humanos com a cabeça de olho. Foi aí que eu denominei: são k-Olhos! Seres de um olho só! As crianças, já autônomas na sala de arte, divertiam-se em suas atividades criativas e eu me dei o direito de aproveitar esses momentos criativos para me expressar.


Esse foi o primeiro de desenho, onde tudo começou... depois de finalizar o desenho original comecei a vetorizar algumas partes do desenho original e fazer postais coloridos. Nessa época Paulo Amoreira fazia haicais para os desenhos e eu postava no fotolog. A primeira postagem foi em 14 de março de 2007 (http://www.fotolog.com.br/sratudo/22753400/):

 ...andei rabiscando... meninos-de-olhos olhares matreiros... subindo telhados... pulando bueiros...


As postagens iniciaram em março de 2007 e seguiram, postais e seus haicais: (http://www.fotolog.com.br/sratudo/archive/3/2007/). Nessa época criei o logo do k-olho.

...passeavam pela cidade... olhos-meninos-olhares... o que viam? o que sentiam? o que diziam? quem eram?... o que se sabia de tais seres de um olho-só?... apenas que questionavam valores sobre os olhares urbanos...brincavam e perguntavam uns aos outros sobre o que verdadeiramente viam... o que era realidade? o que seria sua ilusão? o que era a cidade? o que podia guardar a visão?... eram tantos questionamentos que desistiam por um momento... e recomeçavam na deliciosa brincadeira de olhar e procurar o sentido de ali habitar...
Comecei a criar intensamente. Fazer originais e deles os digitais, vetorizando-os detalhadamente.


As pessoas começavam a conhecer o K-Olho virtualmente, no fotolog e na época no Orkut e começaram a curtir, interagir. Nessa época uma amiga insistiu muito para que eu fizesse camisetas, a Laryssa Buttgereit. Eu não tinha muito interesse nisso, queria mesmo era criar, mas ela foi insistente e persistente até que me convenceu. Eu disse a ela, ok, vamos fazer camisetas, mas elas precisam ser diferentes, únicas e originais, pois o k-Olho é contra a massificação e a industrialização. Foi aí que surgiu a ideia de uma camiseta estampada atrás e lisa na frente, onde faríamos a serigrafia dos desenhos. Foi Laryssa quem me ensinou a serigrafar. Escolhemos 10 desenhos iniciais e mandei fazer telas de serigrafia.


Escolhemos um modelo de camiseta mais despojado, de malha, confortável, que pudesse ser usado em qualquer ocasião. Fizemos umas 10, todas diferentes e exclusivas, entre masculinas e femininas e demos de presente aos amigos. Assim nasceu a KmisetOlho!



Nessa época crio o blog do K-Olho: http://kolho.wordpress.com/ e começo a publicar sua trajetória.

Logo que as 1as KmisetOlhos foram criadas surge o Klã-Olho, o clã das pessoas que tinham KmisetOlho que estariam ligadas às ideias filosóficas deste universo do olhar. As pessoas passaram a posar com suas KmisetOlhos fazendo OLHÃO:



Durante um tempo passei a fazer as KmisetOlhos sozinha. Selecionava os tecidos, a Lindimárcia (do Senac) costurava as blusas pra mim e eu mesma serigrafava em casa. Um trabalho completamente artesanal e singular.

Em 2009, da parceria com Paulo Amoreira surge a marca L.U.PA. e o Mundo k-Olho se amplia:



Nesse mesmo ano (2009) começo uma parceria com o designer Sergio Melo. Essa parceria foi muito produtiva, pois juntos, além de dar continuidade às KmisetOlhos passamos a conceber e criar novos produtos, como os KdernOlhos (cadernos artesanais com capa de tecido serigrafado, costurados à mão); Olhobags (ecobags); portaOlhos (porta-óculos); coleção SPLASH.


Assim como participar de eventos como o DeVERcidade, a Casa das Meninas. Criamos a loja virtual, o site do K-Olho. O evento deVERcidade criou seu lay-out a partir de um dos desenhos do K-Olho.


Eu e Sergio formamos uma boa dupla, trabalhamos juntos 2 anos, 2009 e 2010, mas pelas contingências de trabalho de ambas as partes, minha por ingressar na Universidade Federal do Ceará e dele por ter um escritório de design entre outros trabalhos profissionais, acabamos por ter que dedicar mais tempo a outras atividades e assim o k-Olho passa um tempo parado.

Em 2012, me aproximo da designer de moda Silvania de Deus que topa firmar uma nova parceria e praticamente ressuscitar o K-Olho, completamente parado desde que ingressei como professora.  Juntas criamos o K-Olhito, “para pequenos olhinhos”, a coleção infantil do K-Olho, com KmisetOlhos e vestidOlhos para crianças de 2 a 8 anos. Além das kmisetOlhos femininas, 1º produto do k-Olho passamos a fazer também quadrinhos, ímãs de geladeira, postais e mini-pôsters. Em parceria com a Xique-Xique Home Boutique passamos a criar também almofadas.



Manter o trabalho acadêmico como professora numa Universidade Federal, cursar doutorado e dar continuidade a um projeto de arte como o K-Olho tem sido um desafio constante que encontra apoio na parceria com Silvania de Deus, pela sua experiência na área e pela nossa afinidade criativa. Temos em vista novos produtos, como calcinhas, retomar as Olhobags, dentre outros mais.

No momento estou trabalhando numa historinha do K-Olho para a Casa Cor, mas ainda é surpresa! 


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